Fim da Mollitiam Industries: encerramento da startup espanhola de spyware

Fim da Mollitiam Industries: encerramento da startup espanhola de spyware

Mollitiam Industries: A Queda de uma Startup de Spyware Espanhola

A Mollitiam Industries, uma fabricante relativamente desconhecida de spyware localizada em Toledo, Espanha, está enfrentando o seu fim. O fechamento da empresa foi confirmado por registros públicos que indicam que a startup declarou falência no dia 23 de janeiro de 2025. A falência é atribuída a uma combinação de fatores financeiros e a uma recente onda de escrutínio sobre as práticas de vigilância de empresas de tecnologia.

Ascensão e Queda

A história da Mollitiam Industries é um reflexo do crescente mercado de tecnologia de vigilância. Fundada em um contexto repleto de rivalidades e inovações, a empresa operava em grande parte nas sombras. Ao contrário de outras firmas mais conhecidas no setor, como o NSO Group, a Mollitiam tendia a manter um perfil baixo, evitando publicidade e exposição excessiva.

O Papel do Sigilo

Esse sigilo pode ser atribuído a várias razões. Em primeiro lugar, a própria natureza do setor de spyware tende a ser clandestina. Existem muitos fornecedores ao redor do mundo e muitos preferem não chamar atenção para suas operações. Além disso, a falta de cobertura dos meios de comunicação em inglês sobre a indústria de tecnologia de vigilância na Espanha – uma nação que não costuma receber amplo destaque em relatos internacionais de tecnologia – também pode ter contribuído para essa opção.

Produtos e Escândalos

Em 2021, a Mollitiam ficou em evidência após um relatório da Wired sobre uma brochura que vazou, revelando seus produtos, como o "Homem Invisível" e "Nadador Noturno". Esses softwares foram projetados para obter dados sigilosos de dispositivos-alvo, estando aptos a ativar câmeras e microfones, roubar senhas e interceptar mensagens de aplicativos como Telegram e WhatsApp.

Além das suas práticas de vigilância, a empresa se viu envolvida em um escândalo na Colômbia, onde, segundo relatos, jornalistas estavam sendo monitorados. A revista Semana noticiou que seus jornalistas e redações estavam sob vigilância por forças de inteligência militar, resultando em ameaças de perseguição física e digital. O relacionamento entre a Mollitiam Industries e as forças militares colombianas levantou questões plantadas de ética e abuso de poder.

Oferta de Malware

Uma fonte anônima revelou que um coronel de inteligência cibernética ofereceu 50 milhões de pesos (aproximadamente 15.000 dólares) para inserir um malware nos computadores da equipe da Semana. Um contrato revelador atribui o desenvolvimento desse malware à Mollitiam, e os documentos indicam uma proposta para um sistema denominado "Hombre Invisible", projetado para atacar computadores MacOS e Windows, além de conseguir burlar softwares antivírus.

A capacidade do malware de invadir dispositivos remotos e acessar comunicações privadas foi descrita por uma fonte anônima como uma ferramenta que permitia acesso irrestrito a dados, incluindo conversas e arquivos envolvidos nas vítimas.

O Colapso Financeiro

Assim como inúmeras startups em setores de alto crescimento, a Mollitiam Industries sofreu com a pressão financeira. A indústria de tecnologia de vigilância está em constante evolução, e os desafios econômicos foram um fator decisivo que levou a empresa à falência. A incapacidade de se adaptar a um ambiente competitivo e a crescente pressão por regulamentações mais rigorosas podem ter contribuído para a falência da empresa.

Na época da sua falência, a Mollitiam tinha entre 11 e 50 funcionários, segundo seu perfil no LinkedIn. O site oficial da empresa permanece ativo, mas não houve resposta a tentativas de contato feitas por imprensa especializada.

Monitoramento e Ação

Em meio ao aumento da atenção internacional às práticas de vigilância, a Mollitiam Industries estava sendo monitorada por organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional. Reportagens destacaram como a empresa aparentemente estava operando redes de contas falsas nas plataformas sociais, uma tática comum para testar seus softwares maliciosos e eliminar rastros de suas atividades.

Em 2023, surgiram relatos de que a Mollitiam usou engenharia social e phishing para direcionar ataques a opositores políticos e jornalistas, evidenciando um padrão de comportamento que pode ser considerado ameaçador para a liberdade de expressão e direitos civis.

O Cenário da Tecnologia de Vigilância na Espanha

Nos últimos anos, a Espanha emergiu como um foco central para o desenvolvimento de tecnologias de vigilância. Ocrescimento do setor trouxe à tona startups que, embora menos conhecidas internacionalmente, têm o potencial de impactar profundamente o panorama global de vigilância. Algumas dessas empresas foram fundadas por estrangeiros que recrutaram talentos de segurança de diferentes países, como Israel e Itália.

A situação da Mollitiam Industries destaca a necessidade de maior regulamentação e supervisionamento na indústria de tecnologia de vigilância. À medida que as ferramentas de monitoramento se tornam mais sofisticadas, questões éticas e legais acerca do uso de spyware começam a chamar a atenção das autoridades e da sociedade em geral.

Conclusão

A Mollitiam Industries, apesar de seu curto histórico, deixou uma marca significativa na narrativa sobre vigilância e privacidade. Sua queda pode ser um sinal de alerta para outros participantes do setor, evidenciando como a pressão financeira, escrutínio público e a crescente demanda por regulamentação podem moldar o futuro das empresas de spyware. Como a sociedade se aproxima de uma maior conscientização sobre privacidade digital, a necessidade de garantir que tecnologias de vigilância sejam usadas eticamente e dentro dos limites da lei se torna ainda mais crucial.

Backend do Spyware Night Crawler da Mollitiam Industries


Legenda: Uma captura de tela do backend do spyware da Mollitiam Industries, Night Crawler (Imagem: captura de tela de uma brochura de revenda/ Cortesia de Omer Benjakob do Haaretz).

O caso da Mollitiam Industries serve como um estudo de caso sobre os riscos associados à tecnologia de vigilância na atualidade, além de trazer à tona a crescente necessidade de discutir os limites da privacidade em um mundo cada vez mais digital.

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